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Cultural Heritage and Oralities

Património cultural e oralidades

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Published on Wednesday, August 01, 2012

Abstract

Os objectivos da Conferência consistem em reflectir sobre a produção da oralidade, a sua importância como ferramenta de diálogo intercultural e de construção do património e, também, como uma realidade social que deve ser valorizada através da sua visibilidade pública. Pretende-se criar um espaço no qual os especialistas, técnicos e estudantes possam debater sobre as temáticas propostas.

Announcement

ÉVORA, 8, 9 e 10 de NOVEMBRO de 2012
Fórum Eugénio de Almeida

APRESENTAÇÃO:

A II Conferência Internacional da Tradição Oral – Oralidade e Património Cultural, enquadra-se no Projecto Oralities, [www.oralities.eu] no qual participa como leader a cidade de Évora, tendo como parceiros os Municípios e as Cidades de Idanha-a-Nova e Mértola de Portugal, Ravenna de Itália, Ourense da Galiza/Espanha, Birgu de Malta e Sliven da Bulgária.
A Conferência conta com um Comité Científico formado por cinco investigadores da área das Antropologias e das Literaturas Tradicionais e da História Social. Serão apresentadas conferências plenárias e diferentes comunicações que se poderão enquadrar nas mesas temáticas, referidas seguidamente.
Com as luzes adquiridas nos 3 dias da I Conferência Internacional da Tradição Oral, que teve lugar em Ourense nos dias 11, 12 e 13 de Novembro de 2010, propomos, com a organização da II Conferência em Évora, aprofundar a temática geral “Oralidade e Património Cultural”.

OBJECTIVOS:

Os objectivos da Conferência consistem em reflectir sobre a produção da oralidade, a sua importância como ferramenta de diálogo intercultural e de construção do património e, também, como uma realidade social que deve ser valorizada através da sua visibilidade pública. Pretende-se criar um espaço no qual os especialistas, técnicos e estudantes possam debater sobre as temáticas propostas.

COMITÉ CIENTÍFICO:

  • José Rodrigues dos Santos, CIDHEUS/Universidade de Évora, Academia Militar de Lisboa
  • Santiago Prado Conde, Universidade de Vigo, Galiza
  • Cláudia Sousa Pereira, Universidade de Évora
  • Luisa Tiago Oliveira, ISCTE-IUL
  • Isabel Cardigos, Centro de Estudos Ataíde Oliveira/Universidade do Algarve

LOCAL E DATA:

Fórum Eugénio de Almeida, Évora, dias 8, 9 e 10 de Novembro de 2012.
 

PAINÉIS TEMÁTICOS:

1. Títulos dos temas

(i) As minorias e a tradição oral (História, Geografia, Etnografia…)
(ii) Memória em crise: oralidades e memória traumática
(iii) O conto tradicional como arte performativa
(iv) Músicas e tradições: o papel das oralidades
(v) Tradições orais e contextos locais
(vi) Formas e problemas da transmissão da oralidade

2. Ideias orientadoras dos temas propostos

(i) As minorias e a tradição oral na Europa

A memória colectiva das sociedades europeias está profundamente marcada pelo recurso à escrita. Não só a conservação e a transmissão dos factos e vivências, mas a própria elaboração dos conteúdos dependem da forma escrita. Assim se operou uma selecção dos acontecimentos e das ideias que passaram para a posteridade, mas a passagem ao registo escrito influenciou também a forma que os conteúdos da memória colectiva assumiram. Ora, a escrita enquanto recurso de registo e transmissão foi, numa larga medida, um privilégio dos grupos sociais dominantes. Salvo raras excepções, os grupos minoritários, dotados de menos recursos, tendo um acesso mais limitado à cultura escrita, viram as suas memórias confiadas ao mundo da oralidade. Elaboradas e transmitidas sobretudo oralmente, essas memórias assumem um cariz especial. O laço afectivo que une as memórias e as pessoas e as pessoas entre elas é particularmente forte e é também decisivo no que concerne às probabilidades de sobrevivência dos conteúdos. Enquanto o escrito pode aguardar quase indefinidamente o olhar do leitor, a memória oral só é preservada se a cadeia de transmissão viva se mantiver intacta; e para que tal aconteça, é preciso que o laço efectivo com os conteúdos se mantenha.
Estudar a oralidade no que concerne às minorias (étnicas, culturais, religiosas, etc.) é contribuir para uma melhor compreensão do passado e do presente das minorias, passado e presente que são em grande parte comuns com os das maiorias no seio ou ao lado das quais viveram e vivem. A compreensão da cultura duma sociedade só é completa se tiver em conta todas as formas culturas parciais, incluindo as maioritárias e as minoritárias. Compreender as “nossas” minorias é, de certo modo, melhor nos entendermos a “nós” próprios: qualquer que seja o modo como se define e entende esse “nós”.
Neste painel seria interessante dar a conhecer estudos sobre o papel das oralidades na vida das minorias culturais e na sua relação com as maiorias. Sobre as formas orais de expressão: palavra com as suas formas poéticas, narrativas, o canto, etc.

Poderíamos debruçar-nos sobre a transmissão dos conteúdos no interior dos grupos minoritários e sobre a relação com as maiorias (performance ou repressão, etc.). Várias disciplinas podem contribuir para estes objectivos. A História poderia oferecer-nos exemplos de situações que no passado da Europa testemunharam os processos de “minorização” (o devir “minoria” de grupos que eram simplesmente diferentes de outros sem que essa diferença os identificasse como minoria). A Geografia poderia mostrar de que modo a distribuição dos fenómenos “minoritários” no espaço social é influenciada por factores culturais entre os quais a existência de expressões de cultura oral e as influencia em retorno. A Etnografia poderia trazer-nos descrições actuais das culturas orais e do papel da oralidade (narrativas, poesias, cantos, enquanto modos de expressão) nas vivências presentes. Todas estas disciplinas, como outras (Psicologia, Filosofia…) poderiam também elucidar o papel das oralidades no modo como as culturas maioritárias conhecem ou desconhecem, consideram ou desconsideram as minorias.

(ii) Memória em crise: oralidades e memória traumática

A história da Humanidade, e certamente a história da Europa consiste, de certo modo, no trabalho de rememoração e esquecimento dos acontecimentos traumáticos. Esse trabalho é outro nome para “cultura”, já que preservar a lembrança e/ou (tentar) esquecer dos traumas do passado se faz sempre mediante a evocação e a reelaboração das memórias. Na Europa, o presente é decerto relativamente apaziguado, mas nada seria mais errado e perigoso que acreditar que a memória dos grandes traumas deixou de influenciá-lo, de surtir efeitos sobre a maneira como vivemos, como nos definimos em relação aos outros, e como encaramos os possíveis futuros.
É verdade que as culturas eruditas, largamente assentes na escrita, produziram ao longo dos últimos séculos um espólio considerável de testemunhos e de análises dessas memórias. Apesar disso, contudo, permanece um hiato imenso entre o mundo da escrita das memórias, por vasto que seja, e o mundo das memórias individuais e colectivas de que são portadores os milhões de cidadãos europeus. Esse mundo permanece não só em grande parte inexplorado, como irredutível ao mundo da escrita.
Grandes catástrofes recentes, cujas testemunhas vão desaparecendo, perdem uma parte da sua realidade e ganham o estatuto de duvidosas elaborações eruditas. Assim acontece com a morte dos últimos soldados da Grande Guerra, ou com a morte anunciada das últimas testemunhas directas do Holocausto. Conquanto milhões de páginas tenham sido escritas, e foram, algo como a palavra viva que transporta o peso e a força da vivência directa, pessoal, ao desaparecer, deixa um silêncio, um vazio, que nenhum escrito parece capaz de preencher. Por que razões acontece semelhante facto? Que exemplos temos da conservação, elaboração e transmissão dessas memórias traumáticas? Que casos interessa conhecer, de memórias de traumas (sismos, inundações, catástrofes industriais, guerras e perseguições…), que permitam compreender o funcionamento dessa memória e os seus efeitos? O que devemos pensar do “dever de memória” e do papel da oralidade na libertação pelo dizer, pelo escutar, pelo encenar, em relação aos traumas que o escrito, por si só, não consegue esconjurar?
Neste sentido, a apresentação de trabalhos de recolha de narrativas de histórias de vida seria bem-vinda para documentar não só os factos evocados mas também as modalidades de narração.

(iii) O conto de tradição oral como arte performativa

Existem no tratamento do conto enquanto género narrativo, pelo menos três grandes perspectivas. Uma trata o conto como um género literário, interessando-se pela composição da narrativa, pelos processos de elaboração discursiva, e pelo tratamento do estilo. A segunda aborda o conto de tradição oral do ponto de vista dos elementos simbólicos que mobiliza, da estrutura das relações entre personagens, acções ou acontecimentos. Uma terceira perspectiva considera o conto tradicional como uma performance viva e efémera, em que, como em qualquer arte do espectáculo, uma parte essencial da sua eficácia vem da arte da cena. Mesmo quando esta “cena” é reduzida ao mínimo (como no círculo íntimo), o modo de dizer, a acção da voz e do gesto, em suma do corpo, tomam um relevo especial. Cada performance transforma uma ocorrência do conto em objecto (visual, vocal, presencial) único. É sem qualquer dúvida mais fácil estudar as duas primeiras perspectivas (já que o recurso à transcrição - escrita) reduz o conto a um texto, do que a terceira, porque esta tem que ver com a complexidade das situações (contador(a), local e contexto, audiência, etc.). Ora, o conto de tradição oral é uma arte do efémero, e a sua cultura e salvaguarda dependem estritamente da existência de contadores, a qual por seu turno só pode ser assegurada através duma aprendizagem prática, de mestre a aprendiz, o que a torna particularmente vulnerável.
Este painel deveria acolher estudos, experiências, testemunhos, sobre a arte de contar em todas as suas facetas, as modalidades de aprendizagem e as perspectivas da sua salvaguarda, incluindo as práticas contemporâneas menos “clássicas” (contos modernos, arte de contar anedotas, historietas, etc.).

(iv) Músicas e tradições: o papel das oralidades

Colocar a oralidade no centro dos nossos trabalhos permite suscitar perguntas de investigação das quais algumas são já bem conhecidas, e outras pouco exploradas. O painel não se intitula “músicas de tradição oral” (o que o colocaria em paralelo com o painel “conto”), mas sim algo que equivale ao “papel das oralidades nas tradições musicais”. É claro que as músicas de tradição dominantemente oral nos interessam, e o papel da oralidade na sua constituição (formação dos músicos, aprendizagem das regras e das normas específicas de cada música, discursos sobre essas músicas, etc.) interessa naturalmente o painel.
Mas o intitulado que escolhemos tem a vantagem de incluir as músicas eruditas (ou “clássicas”), nos objectivos de estudo. Ainda que a ideia que comummente circula sobre estes músicas seja que são “músicas da escrita”, o facto que a escrita musical tenha para elas a importância que sabemos tende a ocultar o papel imenso, decisivo, da tradição oral, e da transmissão oral das técnicas, das normas, das maneiras de interpretar as partituras. Não é por acaso que os músicos “clássicos” se sentem obrigados a descrever as suas formações combinando a menção das escolas com a dos professores individuais com quem tiveram lições. O que se passa nessas aprendizagens de mestre a aluno, é pelo menos tanto uma transmissão oral como uma aprendizagem técnica, a do fazer.
Por isso, o painel centrado no papel da oralidade nas músicas de tradição (a música “clássica” é uma delas) permite trazer para a luz o que só o dizer (o saber dizer) permite compreender: como se aprendem as músicas, como se aprende a falar das músicas.

(v) Tradições orais, culturas e contextos locais

Nos contextos locais, em particular tratando-se de colectividades rurais e/ou de pequenas dimensões como as que associamos à localidade, ao lugar e à proximidade física, as oralidades representam um factor de sociabilidade de primeira importância. É a relação face a face, é o boca a ouvido, a mexeriquice, a coscuvilhice, o boato, até. Em todos os casos, a comunicação interpessoal desempenha um papel de laço, de criação ou de reforço das micro-pertenças, e também de criação e de gestão dos conflitos, das inimizades. Mas para além desta função genérica de médium, as oralidades criam, transmitem, mantêm as memórias locais, que porventura nunca são vertidas no escrito (ou pelo menos no escrito de difusão pública). Estas memórias (conservadas, inventadas, recompostas) são um património particularmente importante na elaboração das identidades locais, mesmo quando não se limitam a veicular acontecimentos, acções, agradáveis, e eternizam as fracturas, as divisões que definem, tanto como a união e a harmonia, a representação que a colectividade tem de si própria num dado momento da sua história.
Neste painel, seria interessante acolher estudos e testemunhos quanto às tradições propriamente locais de transmissão oral, quer elas digam respeito ao trabalho e às técnicas, à natureza e seus ciclos, quer sejam familiares, amorosas, políticas, ou ainda saberes sobre os outros (o conhecimento das genealogias, das alianças entre famílias), a riqueza de uns (e a sua origem) e a desgraça de outros e as suas causas, etc.

(vi) Formas e problemas da transmissão da oralidade

O tema “transmissão da oralidade” acrescenta uma perspectiva nova, ao indagar os modos de transmissão das técnicas, dos estilos, das atitudes que acompanham os usos sociais da oralidade incluindo a performance oral. Os modos de expressão oral (desde o tipo de colocação da voz, à tensão, até à “mise en forme” dos conteúdos no exercício oral (retórica e acção) são decerto bases essenciais do saber “falar”, nas formas que assume em cada cultura. Contudo, se quisermos dar toda a dimensão ao tema das oralidades, não podemos circunscrevê-lo às formas “tradicionais”, rurais, etc. Teremos que abri-lo ao estudo das formas actuais, urbanas, quer se trate de locutores de rádio (por exemplo a “arte do relato de futebol”), dos vendedores e feirantes nos mercados, de apresentadores de TV, ou da arte oratória dos políticos contemporâneos, ou ainda dos pregadores das diversas religiões.
Considerar a oralidade enquanto prática viva, de carne e osso, num mundo de tecnologias, de comunicação à distância, de afastamento da corporalidade, permite trazer para a luz do dia formas culturais que, por serem quotidianas e óbvias, passam quase sempre desapercebidas: ora, elas aprendem-se e transmitem-se. A questão é: como?

Places

  • Evora, Portugal

Date(s)

  • Thursday, August 30, 2012

Keywords

  • património cultural imaterial, oralidade

Contact(s)

  • José Rodrigues dos Santos
    courriel : jose [dot] rds [at] gmail [dot] com

Reference Urls

Information source

  • José Rodrigues dos Santos
    courriel : jose [dot] rds [at] gmail [dot] com

License

CC0-1.0 This announcement is licensed under the terms of Creative Commons CC0 1.0 Universal.

To cite this announcement

« Cultural Heritage and Oralities », Call for papers, Calenda, Published on Wednesday, August 01, 2012, https://doi.org/10.58079/ldj

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