Página inicialPolíticas e geopolíticas de tradução

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Políticas e geopolíticas de tradução

The politics and geopolitics of translation

Politiques et géopolitiques de la traduction

Circulação multilingue do conhecimento e histórias transnacionais da geografia

The multilingual circulation of knowledge and transnational histories of geography

Circulation multilingue des savoirs et histoires transnationales de la géographie

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Publicado quarta, 18 de março de 2020

Resumo

Nos últimos cinquenta anos, de modo geral o campo da história da geografia têm operado a passagem de uma abordagem centrada nas Escolas Nacionais em prol da circulação do conhecimento em suas múltiplas escalas. Consequentemente, o léxico da história das ciências e da geografia vem sendo progressivamente povoado por conceitos como trânsito, redes, mobilidades, transnacional, circulação, transferência, centrais de cálculo, espaços do conhecimento, geografias da ciência, mobilidade espacial do conhecimento, geografias da leitura e geografias do livro. Mais recentemente, tem surgido um movimento que considera a necessidade de descolonizar a própria história da geografia, tornando este campo um dos mais dinâmicos da disciplina. Entretanto, mesmo no interior desse quadro, temas como línguas, traduções e escrita não têm recebido a mesma atenção em comparação a museus, laboratórios, jardins botânicos e sociedades científicas, por exemplo. Ao recorrermos às recentes perspectivas abertas pelo domínio dos translation studies, constatamos que as Ciências Humanas têm negligenciado o alcance e a relevância do papel das traduções.

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Direção

Sob a direção de Guilherme Ribeiro, Laura Péaud e Archie Davies

Apresentação

Nos últimos cinquenta anos, de modo geral o campo da história da geografia têm operado a passagem de uma abordagem centrada nas Escolas Nacionais em prol da circulação do conhecimento em suas múltiplas escalas. Consequentemente, o léxico da história das ciências e da geografia vem sendo progressivamente povoado por conceitos como trânsito, redes, mobilidades, transnacional, circulação, transferência, centrais de cálculo, espaços do conhecimento, geografias da ciência, mobilidade espacial do conhecimento, geografias da leitura e geografias do livro (Latour 1987; Ophir & Shapin 1991; Shapin 1998; Livingstone 2003; Secord 2004; Meusburger, Livingstone & Jöns 2010; Keighren 2010; Jöns, Meusberg & Heffernan 2017). Mais recentemente, tem surgido um movimento que considera a necessidade de descolonizar a própria história da geografia (Craggs & Neate 2019), tornando este campo um dos mais dinâmicos da disciplina. Entretanto, mesmo no interior desse quadro, temas como línguas, traduções e escrita não têm recebido a mesma atenção em comparação a museus, laboratórios, jardins botânicos e sociedades científicas, por exemplo. Ao recorrermos às recentes perspectivas abertas pelo domínio dos translation studies, constatamos que as Ciências Humanas têm negligenciado o alcance e a relevância do papel das traduções (Schulte 1992; Bachmann-Medick 2009). Neste contexto, é preciso tomá-las em suas múltiplas singularidades recusando, antes de mais nada, o sentido de cópia insistentemente a elas rotulado (Venuti 2004, 2009, 2013). Assim, quando tentamos investigar como idéias, autores e livros viajam, não podemos ignorar a presença dos idiomas e das traduções.

Este tipo de amnésia torna-se ainda mais grave porque, dados os seus conteúdos ético, político e geopolítico (Spivak 2004 [1993]; Cassin 2018 [2004], 2018; Ricoeur 2004; Mignolo 2012), as línguas participam ativamente das hierarquias e das assimetrias científicas responsáveis pela constituição de periódicos, redes de pesquisa, congressos e obras tidos como centrais ou periféricos no bojo da divisão do trabalho acadêmico. Não por acaso, tanto os países que mais traduzem quanto o plurilinguismo são fenômenos derivados de uma balança na qual a maior parte dos idiomas são considerados dominados em relação a idiomas dominantes — latim e francês no passado, inglês no presente (Casanova 2015). Reunindo geógrafos de várias nacionalidades, os papéis da tradução e os efeitos da hegemonia da língua inglesa sobre a produção geográfica  têm sido discutidos por uma crítica e estimulante literatura (Minca 2000; Wright 2002; Cameron 2003; Garcia-Ramon 2003; Aalbers 2004; Desbiens & Ruddick, 2006; Müller 2007; Houssay-Holzschuh et Milhaud, 2013; Novaes 2015; Germes & Husseini de Araújo 2016; Gyuris 2018). Uma vez que essas questões afetam nativos falantes de língua inglesa de diferentes formas, é importante sublinhar também as fraturas no bojo do próprio inglês global, assim como as práticas hierárquicas inscritas em distintos modos de falar e de escrever no interior de uma língua. Na prática, porém, os critérios estabelecidos por rankings universitários, premiações e instituições de fomento acabam por valorizar muito mais as publicações em inglês e as redes com o mundo anglo-saxão que com outros espaços. Referindo-se especialmente aos impactos sobre a história da geografia, tal estrutura dificulta seja o questionamento dos cânones (Keighren, Abrahamsson & della Dora 2012), seja o interesse pela busca de outras tradições geográficas (Ferretti 2019). Tal situação precisa ser interrogada se quisermos explorar tanto as dimensões dos circuitos idiomáticos quanto as resistências e fissuras no seio da hegemonia anglófona.

Entendendo que tais tópicos continuam a incidir sobre o trabalho de geógrafos ao redor de todo o mundo e que podem ser explorados sob os mais variados ângulos e a partir de diferentes lugares de fala, a Terra Brasilis. Revista Brasileira de História da Geografia e Geografia Histórica [https://journals.openedition.org/terrabrasilis/1080] propõe o dossiê “Políticas e geopolíticas de tradução, circulação multilingue do conhecimento e histórias transnacionais da geografia”. Se muito embora desde sua refundação em 2012 a revista tem se dedicado de maneira pontual às traduções de geógrafos clássicos e contemporâneos, por meio do presente dossiê ela buscará questionar de modo mais sistemático os desafios envolvendo tradução, língua e circulação.

            Sem querer esgotar todas as possibilidades, as temáticas sugeridas são as seguintes:

Políticas e geopolíticas de tradução e suas consequências sobre a produção de saberes geográficos

Nesta perspectiva, questionar-se-ão, entre outros tópicos:

  • dispositivos espaciais da tradução em geografia
  • traduções em zonas fronteiriças
  • circulação científica resultante do trabalho de tradução
  • atores e redes de tradução em geografia
  • efeitos da dominação e da hegemonia visíveis através das traduções

Publicações, leituras e escrita à luz de uma história transnacional da geografia

Aqui, as questões indicadas são as seguintes:

  • hierarquias e assimetrias ao redor da produção geográfica em diferentes idiomas
  • colonialidade do saber geográfico
  • pós-colonialismo, pós-colonialidade, descolonização do saber geográfico: o papel das línguas na busca de alternativas
  • comunicação, silenciamento e intercâmbio nas conferências internacionais de geografia
  • experiências de ensino e de pesquisa em plurilinguismo
  • indivíduos, redes, viagens e artefatos no âmago das histórias transnacionais da geografia

Língua, geografia e interseccionalidade

A fim de contemplar a necessária agenda das minorias, aponte-se:

  • questões de gênero ao redor da tradução e da escrita geográficas
  • o lugar do Sul Global face aos desafios linguísticos
  • histórias da geografia desde o Sul Global: arquivos, revistas, instituições

Normas de submissão

Línguas: português, espanhol, inglês, francês

Deadline: 20 de agosto de 2020

Tamanho dos artigos: até 12 mil palavras ou 30 páginas

Formatação: Fonte Times New Roman 12, espaço entre parágrafos 1,5. Mais informações: https://journals.openedition.org/terrabrasilis/3441

Email dos organizadores:  Guilherme Ribeiro [geofilos@msn.com], Laura Péaud [laura.peaud@gmail.com], Archie Davies [archie.oj.davies@gmail.com] e Terra Brasilis [terrabrasilis@redebrasilis.net]. Favor enviar para os quatro simultaneamente.

Referências

Aalbers, M. B. (2004). Creative destruction through the Anglo-American hegemony: a non-Anglo-American view on publications, referees and language. Area 36.3, 319–322.

Bachmann-Medick, D. The translational turn. Translation Studies, vol. 2, n.1, 2-16 (2009).

Cameron, D. (2003). Foreign exchanges: the politics of translation. Critical Quaterly, vol. 45, issue 1-2, july, 215-219.

Casanova, P. (2015). La langue mondiale. Traduction et domination. Paris : Seuil.

Cassin, B. (2018). Translation as politics. Javnost - The Public, 1-9.

Cassin, B. (2018 [2004]). Apresentação da 1ª edição francesa do Vocabulaire Européen des Philosophies. Tradução de Fernando Santoro. In: Cassin, B. Dicionário dos intraduzíveis: um vocabulário das filosofias. Volume Um: Línguas. Organização de Fernando Santoro e Luisa Buarque. Belo Horizonte: Autêntica, pp. 16-21.

Craggs, R. Neate, H. (2019). What happens if we start from Nigeria? Diversifying Histories of Geography. Annals of the American Association of Geographers, 1-18.

Desbiens, C., Ruddick, S. (2006). Speaking of geography: language, power, and the spaces of Anglo-Saxon `hegemony'. Society and Space 24, pp.1-8.

Ferretti, F. (2019). Rediscovering other geographical traditions. Geography Compass, Volume 13, Issue 3, 1-15.

Garcia-Ramon, M-D. (2003). Globalization and international geography: the questions of languages and scholarly traditions. Progress in Human Geography 2 7, 1-5.

Germes, M., Husseini de Araújo, S. (2016). For a critical practice of translation in geography. ACME: an international journal for critical geographies 15 (1), 1-14. 

Gyuris, F. (2018). Problem or solution? Academic internationalization in contemporary human geography in East Central Europe. Geographische Zeitschrift 106, 1, 38-49.

Houssay-Holzschuch, M., Milhaud, O. (2013). Geography after Babel. A view from the French province. Geographica Helvetica, 68, 51-55.

Jöns, H., Meusburger, P., Heffernan, M. (Eds.). (2017). Mobilities of knowledge. Cham: Springer.

Keighren, I. M., Abrahamsson, C., della Dora, V. (2012). On canonical geographies. Dialogues in Human Geography, vol 2 (3), 296-312.

Keighren, I. M. (2010). Reading the messy reception of Influences of geographic environment (1911). In: Ogborn, Miles, Withers, Charles W.J. (Eds). Geographies of the book. Farnham: Ashgate, 277-298.

Latour, B. (1987). Science in action. How to Follow Scientists and Engineers Through Society. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press.

Livingstone, D. (2003). Putting science in its place. Chicago: University of Chicago Press.

Meusburger, P., Livingstone, D., Jöns, H. (Eds.).  Geographies of science. Heidelberg: Springer (2010).

Mignolo, W. (2012). Reflections on translation across colonial epistemic differences. Languages, media and visual imaginary. In: Italiano, F., Rössner, M. (edited by). Translatio/n: Narration, Media and the Staging of Differences. Bielefeld: Transcript Verlag.

Minca, C. (2000). Venetian geographical praxis. Society and Space 18, 285-289.

Müller, M. (2007). What’s in a word? Problematizing translation between languages. Area, vol. 39, n. 2.

Novaes, A. R. (2015). Celebrations and challenges: the international at the 16th International Conference of Historical Geographers, London, July 2015. Journal of Historical Geography, Volume 50, October 106-108.

Ophir, A., Shapin, S. (1991). The place of knowledge. A methodological survey. Science in context 4, 1, 3-21.

Ricoeur, P. (2004). Sur la traduction. Paris: Bayard.

Secord, J. (2004). Knowledge in transit. Isis 95, 654-672.

Shapin, S. (1998). Placing the view from nowhere: historical and sociological problems in the location of science. Transactions of the Institute of British Geographers 23, 5-12.

Schulte, R. (1992). Translation and the academic world. Translation Review, 38-39:1.

Spivak, G. C. (2004 [1993]). The politics of translation. In: Venuti, Lawrence (edited by). Translation Studies Reader. London and New York: Routledge, 397-416.

Venuti, L. (2013). Traduire Derrida sur la traduction: relevance et résistance à la discipline. Noesis, 21, 125-129. Translated by René Lemieux. 

Venuti, L. (2009). Translation, intertextuality, interpretation. Romance studies, v.27, n.3, july, 157-173.

Venuti, L. (2004). How to read a translation. Words without borders. The online magazine for international litterature, july. Available on https://www.wordswithoutborders.org/article/how-to-read-a-translation

Wright, M. W. (2002). The scalar politics of translation. Geoforum 33, 413-414.


Datas

  • quinta, 20 de agosto de 2020

Palavras-chave

  • translation, knowledge, multilingualism, circulation

Contactos

  • Ribeiro Guilherme
    courriel : geofilos [at] msn [dot] com
  • Davies Archie
    courriel : archie [dot] oj [dot] davies [at] gmail [dot] com
  • Péaud Laura
    courriel : laura [dot] peaud [at] gmail [dot] com

Urls de referência

Fonte da informação

  • Ribeiro Guilherme
    courriel : geofilos [at] msn [dot] com

Licença

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Para citar este anúncio

« Políticas e geopolíticas de tradução », Chamada de trabalhos, Calenda, Publicado quarta, 18 de março de 2020, https://doi.org/10.58079/14oi

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